segunda-feira, 9 de março de 2015

A Rádio...


Recordo-me das vezes que fui até á Rádio, “RR”. Foram algumas as vezes em que participei como colaborador no Programa “A Malta do Bairro”. Não tenho certeza, mas parece-me que o programa ia para o ar às segundas pela noite.

À minha frente tinha o Artur e o saudoso Ruca que também fazia as notícias quando apitava o sinal horário. Não me recordo se neste programa cheguei a partilhar o estúdio com o Carlos Rocha. A minha missão era essencialmente de descoberta. Passei muito tempo a pesquisar a Biografia das grandes bandas dos anos 80, para depois contar a história. Depois, passávamos o tempo a falar sobre os discos, sobre o estilo e a passar as canções preferidas de cada um. O Ruca era bom, o Artur também, eram batidos e gostavam daquilo, eu, estava mais interessado em ouvir os discos que não tinha, agradava-me o ambiente e estava numa fase de descoberta em relação a muitas bandas.

Todas as semanas ia à TV Guia buscar o destacável com o resumo histórico de uma banda, pesquisava em muitas outras revistas (no Sete) e lá aparecia no estúdio com algumas folhas cheias de rabiscos ordenados cronologicamente. Recordo três dessas noites, Marillion, Dire Straits e Pink Floyd. Os primeiros e os últimos eram a zona de conforto do Artur, eu andava enfeitiçado pelo Mark Knopfler.

Muitas vezes as pessoas questionam-me como é que me recordo de tantos pormenores referentes a datas de discos, entradas e saídas de músicos das suas bandas, concertos e por ai fora, bem, certamente o programa “A Malta do Bairro” é uma parte da resposta porque me obrigava a procurar, a ler, a escrever e a participar no programa. Hoje, um clique resolve tudo.

Nesses tempos, passei ainda mais horas nas tardes de Sábado com o Carlos Rocha, com o vinil como companhia. Passamos muito tempo na conversa, enquanto a música tocava. Ele sabia mais do que eu, conhecia mais bandas e estava como peixe na água na locução, algo que eu não tinha pretensão de fazer. Mas, eu dava a minha colaboração realizando alguns alinhamentos, recorrendo muitas vezes às faixas escondidas de cada disco. A malta amiga mandava feedback´s muito bons.

Por cima do estúdio havia uma sala que funcionava como Bar e numa dessas tardes de Sábado o Carlos pisgou-se para o piso de cima, deixando-me entregue à mesa de som, aos pratos e aos discos. Fiquei meio atrapalhado porque a voz tinha fugido, mas mantive a sequência no top. Nunca me esqueci desse momento, ou desses momentos, porque uns tempos depois acabei por entrar num Bar a fazer a mesma coisa. As primeiras vezes que passei som no nosso bar foi através de cassetes que gravava na Hitachi do meu primo Jorge, uma aparelhagem simples como uma qualidade de gravação superior e que estava equipada com prato e leitor de CD. O quarto do meu primo era o meu estúdio de gravação. As cassetes chegavam ao Nosso Bar e tocavam num deck escondido por detrás do balcão, repetindo-se uma e outra vez na mesma noite. O Pedro Nuno, havia investido na abertura da porta e ainda não tinha todos os equipamentos necessários para ter um dj. Isso viria depois. Mas, no início dos anos 90 consegui fazer chegar à malta da minha idade o Rádio Ethiopia da Patti Smith, com Ask The Angels, ou os Pavlov´s Dog com Pampered Menial, discos do início da década de 1970 e que constavam no rico espólio musical do meu primo António Guerreiro. A minha experiência na Rádio foi curta e terminou com a entrada no Nosso Bar.

Nos últimos tempos tenho-me recordado destes dias e destas pessoas, por uma razão simples e que tem a ver com o facto de todos os dias ter que ouvir o mesmo posto de Rádio, reproduzindo sempre nos mesmos horários as mesmas músicas, várias vezes ao dia, todos os dias da semana. Um vómito pegado, porque a música nem sequer é boa e porque o factor surpresa está naturalmente ausente. Os Tugas que têm acesso às Setlist´s são sempre os mesmos.

Será que a malta que está lá no estúdio é feliz?

É conhecido por alguns o meu “ódio de morte” à Rádio, uma inimiga de muita música e de muitos músicos, inimiga da maioria dos músicos. Inimiga dos discos, porque a rádio busca os 3´da canção de refrão, condicionando certamente o processo criativo de muitos músicos e bandas. Quem assim não o fizer estará fora. Será que os músicos tocam o que lhes apetece?

Naturalmente que as opiniões divergem, mas eu continuo a não acreditar na Rádio, porque existe para entreter aqueles que não a estão a ouvir. Toque a merda que tocar é indiferente, importante é que toque qualquer coisa.

Assim sendo, os gestos que se sequem são regulares. Abrir a caixa do cd, sacar o material, abrir a gaveta, tocar no play e já está…

Goats Head Soup, dos Rolling Stones.

Ps: A Rádio é uma companhia importante, alguma Rádio é uma companhia importante. A Rádio presta informações úteis, sem dúvida, nela trabalham grandes profissionais, mas a música é que deixa muito a desejar. Não me refiro às Rádios que se situam nas esquinas de cada localidade, mas sim às Rádios que difundem a treta a larga escala.

 

 

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