Recordo-me das vezes que fui até
á Rádio, “RR”. Foram algumas as vezes em que participei como colaborador no
Programa “A Malta do Bairro”. Não tenho certeza, mas parece-me que o programa
ia para o ar às segundas pela noite.
À minha frente tinha o Artur e o
saudoso Ruca que também fazia as notícias quando apitava o sinal horário. Não
me recordo se neste programa cheguei a partilhar o estúdio com o Carlos Rocha.
A minha missão era essencialmente de descoberta. Passei muito tempo a pesquisar
a Biografia das grandes bandas dos anos 80, para depois contar a história.
Depois, passávamos o tempo a falar sobre os discos, sobre o estilo e a passar
as canções preferidas de cada um. O Ruca era bom, o Artur também, eram batidos
e gostavam daquilo, eu, estava mais interessado em ouvir os discos que não
tinha, agradava-me o ambiente e estava numa fase de descoberta em relação a
muitas bandas.
Todas as semanas ia à TV Guia
buscar o destacável com o resumo histórico de uma banda, pesquisava em muitas
outras revistas (no Sete) e lá aparecia no estúdio com algumas folhas cheias de
rabiscos ordenados cronologicamente. Recordo três dessas noites, Marillion, Dire
Straits e Pink Floyd. Os primeiros e os últimos eram a zona de conforto do
Artur, eu andava enfeitiçado pelo Mark Knopfler.
Muitas vezes as pessoas
questionam-me como é que me recordo de tantos pormenores referentes a datas de
discos, entradas e saídas de músicos das suas bandas, concertos e por ai fora,
bem, certamente o programa “A Malta do Bairro” é uma parte da resposta porque
me obrigava a procurar, a ler, a escrever e a participar no programa. Hoje, um
clique resolve tudo.
Nesses tempos, passei ainda mais
horas nas tardes de Sábado com o Carlos Rocha, com o vinil como companhia.
Passamos muito tempo na conversa, enquanto a música tocava. Ele sabia mais do
que eu, conhecia mais bandas e estava como peixe na água na locução, algo que
eu não tinha pretensão de fazer. Mas, eu dava a minha colaboração realizando
alguns alinhamentos, recorrendo muitas vezes às faixas escondidas de cada
disco. A malta amiga mandava feedback´s muito bons.
Por cima do estúdio havia uma
sala que funcionava como Bar e numa dessas tardes de Sábado o Carlos pisgou-se
para o piso de cima, deixando-me entregue à mesa de som, aos pratos e aos
discos. Fiquei meio atrapalhado porque a voz tinha fugido, mas mantive a
sequência no top. Nunca me esqueci desse momento, ou desses momentos, porque
uns tempos depois acabei por entrar num Bar a fazer a mesma coisa. As primeiras
vezes que passei som no nosso bar foi através de cassetes que gravava na
Hitachi do meu primo Jorge, uma aparelhagem simples como uma qualidade de
gravação superior e que estava equipada com prato e leitor de CD. O quarto do
meu primo era o meu estúdio de gravação. As cassetes chegavam ao Nosso Bar e
tocavam num deck escondido por detrás do balcão, repetindo-se uma e outra vez
na mesma noite. O Pedro Nuno, havia investido na abertura da porta e ainda não
tinha todos os equipamentos necessários para ter um dj. Isso viria depois. Mas,
no início dos anos 90 consegui fazer chegar à malta da minha idade o Rádio
Ethiopia da Patti Smith, com Ask The Angels, ou os Pavlov´s Dog com Pampered
Menial, discos do início da década de 1970 e que constavam no rico espólio
musical do meu primo António Guerreiro. A minha experiência na Rádio foi curta
e terminou com a entrada no Nosso Bar.
Nos últimos tempos tenho-me
recordado destes dias e destas pessoas, por uma razão simples e que tem a ver
com o facto de todos os dias ter que ouvir o mesmo posto de Rádio, reproduzindo
sempre nos mesmos horários as mesmas músicas, várias vezes ao dia, todos os
dias da semana. Um vómito pegado, porque a música nem sequer é boa e porque o
factor surpresa está naturalmente ausente. Os Tugas que têm acesso às Setlist´s
são sempre os mesmos.
Será que a malta que está lá no
estúdio é feliz?
É conhecido por alguns o meu
“ódio de morte” à Rádio, uma inimiga de muita música e de muitos músicos,
inimiga da maioria dos músicos. Inimiga dos discos, porque a rádio busca os
3´da canção de refrão, condicionando certamente o processo criativo de muitos
músicos e bandas. Quem assim não o fizer estará fora. Será que os músicos tocam
o que lhes apetece?
Naturalmente que as opiniões
divergem, mas eu continuo a não acreditar na Rádio, porque existe para entreter
aqueles que não a estão a ouvir. Toque a merda que tocar é indiferente,
importante é que toque qualquer coisa.
Assim sendo, os gestos que se
sequem são regulares. Abrir a caixa do cd, sacar o material, abrir a gaveta,
tocar no play e já está…
…Goats Head Soup, dos Rolling Stones.
Ps: A Rádio é uma companhia
importante, alguma Rádio é uma companhia importante. A Rádio presta informações úteis, sem dúvida, nela trabalham grandes profissionais, mas a música é que deixa muito a desejar. Não me refiro às Rádios que se situam nas esquinas de cada localidade, mas sim às Rádios que difundem a treta a larga escala.
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